domingo, 2 de dezembro de 2012

Viagem às cegas no tabuleiro

Domingo passado não fiquei de bobeira em casa que nem hoje. Não tive tempo de caminhar e (começar a) correr na Lagoa que nem hoje. Aliás hoje foi um domingo atípico, porque ultimamente na maioria deles tenho ido ao trabalho voluntário. Lá, na maior parte das vezes, tenho que me preocupar em conferir se a medicação das crianças (já adolescentes, mas pra mim vão ter sempre 5 anos!) veio certinha, organizar o lanche, mandar todo mundo pro banho, essas coisas... Mas, nos últimos três domingos que eu fui, tive a sorte de ser feriadão emendado ou de ter algum passeio pra eles fazerem. Isso não significa que não tinha ninguém lá, sempre fica alguém - que os padrinhos não puderam levar, que ficou de castigo, que enrolou para não sair. Foram dias mais tranquilos, com uma, duas ou três crianças. Gosto muito disso, porque além de ficar mais fácil pra mim, é óbvio, também consigo dar mais atenção pra quem está em casa. Em dois domingos consegui dar uma atenção maior a uma menina - na verdade uma moça de 17 anos mas que pensa como criança. Achei perdido na cozinha um jogo da memória e perguntei de quem era, e ela falou que era de outra menina que não estava em casa na hora. Pra fugir só um pouquinho de um DVD da Xuxa que ela adora (só um pouquinho porque não dá pra fugir de vez  e no final eu acabo sempre cantando e dançando "Libera Geral"), perguntei se ela queria jogar e ela aceitou. Não tinha a menor ideia se ela sabia como era, mas expliquei e fui jogando e ensinando e ela gostou. No domingo seguinte quando cheguei ela já pediu: "Vamos jogar?"Ah, que alegria, venci a Xuxa ao menos uma vez!
Mas voltemos ao domingo passado. Só estavam lá três figurinhas, a menina do jogo da memória e mais dois meninos. Estavam dormindo quando cheguei, uma preguiça só aquilo lá! Na verdade um dos meninos não estava dormindo, estava só deitado na cama com um tabuleiro de xadrez do lado. Era dia de ir outro voluntário, que ele esperava que fosse jogar xadrez com ele, mas eu apareci no lugar e tive que dizer: "Ih, não sei jogar xadrez não!" Mais tarde, depois do lanche, ele deitou na cama e já estava pegando no sono. O que ele não contava é que eu já tinha decido que naquele dia ele seria o meu alvo. Acordei ele e falei "Vamos jogar xadrez?" E ele respondeu: "Mas tia, você não disse que não sabe?" E eu respondi: "Por isso mesmo, você vai me ensinar."


    Essa estória não pareceria nada demais se não fosse por um imenso "detalhe". O menino é deficiente visual. O tabuleiro e as peças de xadrez são todos adaptados pra ele. O tabuleiro além de ter aquele padrão de duas cores tem relevo nos quadrados de uma das cores. As peças são pretas e brancas, mas as pretas têm uma bolinha de metal no topo. As peças e o tabuleiro possuem velcro, para que as peças fiquem afixadas no lugar e não sejam derrubadas. O jogo é todo feito para ele tatear.


   Naquela tarde de domingo eu aprendi muito. Aprendi as regras básicas do xadrez, que ele soube me explicar muito bem, com extrema paciência, dando exemplos durante o jogo e respondendo minhas dúvidas. Eu só me preocupava em saber que peça minha ainda tinha os movimentos livres e como ia fazer ela andar (na diagonal? uma casa? várias casas?). "Tia, você não tem que pensar em como as peças andam, mas em como eu estou te atacando!" Fiquei ali, jogando e admirando ele jogar, me perguntando: "como será que ele faz isso?" Eu era totalmente "café-com-leite" e ele me venceu fácil com um xeque-mate (só não me venceu antes porque ficou deixando passar as chances para me explicar mais coisas). Mas ele ganha de outros tios que são adultos, enxergam e jogam xadrez há muito tempo. E ele também joga no computador, pois tem xadrez em um software para deficientes visuais (não tenho a menor ideia de como funciona, será que o computador fala as posições das peças na tabuleiro?).

Repito que naquela tarde de domingo eu aprendi muito. Vendo aquele menino de 12 anos tateando o tabuleiro e as peças, praticamente "vendo" com as mãos e visualizando o jogo na tela mental, aprendi que não há barreira intransponível na vida, que não há dificuldade que não se possa superar, que não há limites para o ser humano desenvolver suas capacidades. Fiquei muito feliz por ele estar superando sua limitação. Foi um dia inesquecível e emocionante, em que também aprendi que "sim, eu posso". Todos podemos.









segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Viajando pelas ruas


Li hoje um depoimento no blog Escreva Lola Escreva, para variar (leio todo dia mesmo!), em que uma moça conta uma situação que viveu dentro de um ônibus. Bom, no meio desse relato anônimo ela escreveu um parágrafo que achei bem forte e que simplesmente vai direto no ponto do que nós mulheres vivemos no dia-a-dia. Eu já vivi uma experiência horrível dentro de um ônibus aos 16 anos, indo para minha aula do cursinho pré-vestibular noturno. E já passei por inúmeras outras mais ou menos bizarras que essa. A última foi ouvir "que perigo!" ao sair arrumada para uma festa, e isso foi dentro do meu próprio condomínio. Morri de raiva, fiquei xingando baixinho aquele infeliz. Mas nisso já fiquei tensa pensando naquela frase e no conteúdo intimidador. "Perigo" de quê? Dali eu ia pegar um táxi e já fiquei preocupada. Qual não foi meu alívio ao fazer sinal para o táxi e ver que quem dirigia era uma mulher! Ufa! Relaxei e pude curtir minha ida ao casamento de amigos sem maiores "perigos". Creio que toda mulher já passou por situações em que foram assediadas e constrangidas por homens na rua. Mas vamos ao parágrafo da moça anônima:

"A verdade é que todos os dias milhões de mulheres são importunadas, assediadas, tocadas sem seu consentimento, agredidas verbal e fisicamente, abusadas sexualmente e estupradas, em espaços públicos e privados. A verdade é que sair na rua é uma batalha diária, porque em um sistema de dominação masculina, supõe-se que mulheres estão sexualmente disponíveis e não são suficiente humanas para terem seus espaços respeitados. Pode ser um cara de bermuda ou gravata, que pode dizer "Oi, princesa" ou "Quero f*der sua b*ceta", pode te perseguir ou apenas berrar do outro lado da rua, pode passar de carro e gritar alguma asneira ou passar do seu lado e sussurrar no seu ouvido, pode pegar no seu braço ou passar a mão na sua bunda, ou, no pior dos casos, tentar te violentar. Mas, no fim das contas, a motivação de todas as situações é a mesma, em todas elas somos silenciadas, constrangidas e violadas, e todas são, em maior ou menor grau, invisibilizadas ou normatizadas pela sociedade. Eu chamo de terrorismo machista, e considero uma opressão sistematizada."

Não sei qual a solução. Para citar um paliativo...vagão para as mulheres? Isso não deveria ser necessário, mas infelizmente ainda é. E nem isso os homens são capazes de respeitar. Se não nos respeitam em um vagão reservado a nós, que dirá na rua, que é deles.
Na verdade eu sei qual é a solução e ela não se dará a curto prazo. É uma mudança total do paradigma vigente: um outro mundo, com igualdade de verdade e respeito entre os sexos.

sábado, 24 de novembro de 2012

Viagem reflexiva

Estou devendo mais viagens de verdade nesse blog. Tenho muitas impressões de viagens para compartilhar e fotos bonitas para mostrar. Mas ando muito reflexiva e no momento as viagens para dentro estão ocupando mais espaço na minha vida. Ainda estou aprendendo a lidar com novas ideias e novos ideais. E o pior, estou tendo que reaprender a lidar com as pessoas dentro desse meu novo paradigma. E está bem difícil, eu diria. Hoje li um post no blog da Lola que caiu como uma luva: era um depoimento que tinha muito a ver com o momento que estou vivendo, e me fez parar para pensar um pouco mais.
Acho que sempre fui sensível às injustiças do mundo. Mas algumas fichas custaram a cair. Não percebia o quanto o mundo ainda é injusto e desigual com nós mulheres. Tá, no Oriente Médio é bem óbvio. Isso eu era capaz de perceber. E no Brasil? Aqui já é bem mais sutil (assim como o racismo). Mas cheguei a estudar na faculdade de Direito que mulheres ainda ganham menos que os homens. E que profissões como a de empregada doméstica são tão desvalorizadas (inclusive na nossa Constituição) por serem quase que exclusivamente femininas.
Essas informações meio soltas começaram a se organizar na minha mente bem recentemente. Um blog aqui, uma comunidade ali, um livro acolá e pronto: estava feito o "irremediável estrago" - uma mudança bem radical na forma de ver o mundo. Não tenho mais como voltar atrás. Não tenho como pensar diferente. Considero que sou outra pessoa. Só que as pessoas ao meu redor são as mesmas e continuam pensando igual a antes. Como lidar com isso? Como não me indignar com comentários machistas que escuto sobre nós mulheres? Como fingir que não somos tratadas como objetos? Como não notar que valorizam a nossa beleza em detrimento de outros atributos mais importantes? Está aí na TV, nas bancas de jornal, na "cantada" que recebemos na rua, na fala das pessoas próximas, em todo canto, pra quem quiser ver. Mas é muito sutil e nem todos vêem. É tão sutil que a gente pensa que não existe. É tão sutil que nos desvaloriza sem que cheguemos a perceber.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Viajando no blog alheio


Ando com um pouco de preguiça de escrever. Acho que é porque acabaram-se as férias e voltei a trabalhar. De repente no final-de-semana me inspiro, mas ando mais pra ler. Então vou postar algo que li e gostei: um texto ótimo de um blog que acompanho todos os dias há cerca de um mês, o blog "Escreva Lola Escreva". É sobre o direito das mulheres de votar.

“A pergunta de 160 anos: mulheres deveriam poder votar?”
“A gente ouve isso toda semana: “Feminismo pra quê?! Vocês já conseguiram o direito a voto!”. Os caras (é, quase sempre são caras) que dizem essa besteira não têm a menor ideia de como foi difícil essa conquista, e como tá cheio de pessoas que querem tirar nosso direito (eles que tentem!).
Vou começar falando das dificuldades. O mais interessante de pesquisar quando as mulheres conquistaram o voto é ver que todos os insultos usados contra as feministas hoje (mal amada, feia, ogra, brava, odiadora de homem, peluda, ninguém te quer, quer virar homem etc) já eram usados contra as sufragistas mais de 150 anos atrás. Cadê a criatividade desse povo preconceituoso?”
 Para continuar lendo clique aqui e vá para o blog da Lola.
Eu descobri esse blog porque li um post compartilhado no Facebook. Li, gostei e fui lendo outros posts. A partir de então não consegui deixar de ler nenhum dia. E, o melhor de tudo, descobri a feminista que havia dentro de mim :-)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Viagem midiática

"Na história, não é novidade que o ser humano se torna passivo e frágil diante de um sistema social com o poder de submetê-lo a ideologias fabricadas de acordo com seus interesses. Dessa forma, crenças tão arraigadas, vividas como verdades indiscutíveis, vão sendo incutidas nas pessoas que as defendem como se fossem suas.
Os valores de uma sociedade são, na maioria das vezes, tão imperiosos que determinam até desejos. Não questioná-los é permitir sua influência autoritária. É abrir mão da autonomia e, impotentes, se deixar manipular como marionetes." (Regina Navarro Lins, A Cama na Varanda, pág 132).

Estou adorando esse livro. Acabei de ler esse trecho e estou aqui fazendo uma pausa para reflexão. O livro trata da construção histórica de conceitos como amor romântico, casamento, amor materno...  Conceitos que são tidos como "naturais", inerentes ao ser humano mas que na verdade foram construídos para servir ao propósito de manter o poder dos homens e a submissão das mulheres.

Assisti anteontem "Miss Representation", um documentário que mostra que a representação que a mídia cria da mulher limita sua atuação na sociedade. A mulher é vista como objeto, o que gera uma desvalorização de todos seus atributos como ser humano. 

A mídia é uma poderosa fábrica de ideologias. Se historicamente o sistema social sempre submeteu as pessoas a seus interesses, quem dirá atualmente, com todo o poder de que a mídia dispõe. Isso me assusta, e muito.

Tem um livro que trata desse assunto também que é "O mito da beleza" (Naomi Wolf). Também estou querendo lê-lo, mas tenho problemas em ler livros no computador. Acho que vou acabar comprando o livro "físico" mesmo. Pelo subtítulo já dá pra ter uma ideia melhor do conteúdo: "como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres". 


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Chegando de viagem e falando de amizade


Cheguei de viagem, uma viagem maravilhosa. Depois quero fazer um ou mais posts só sobre ela, com muitas fotos, é claro.
Voltar ao mundo real não é tão ruim assim. Na verdade é muito gostoso, ainda mais ainda estando de férias e podendo dormir muito, curtir o cafofo, ler livros, escrever longos emails com calma para minhas queridas amigas...

Sim, tenho um grupo de melhores amigas há quase 17 anos, que se formou ainda durante minha primeira faculdade. Com elas divido muitas coisas que se passam pela minha cabeça que não ouso dividir com mais ninguém. São de minha inteira confiança. Nossa amizade foi amadurecendo junto conosco. E hoje, já quase atingindo a maioridade, essa amizade tornou-se muito forte. É claro que durante sua infância e adolescência cometeu alguns erros, e ainda os comete, mas esses mesmos erros serviram para que crescesse como uma amizade única e duradoura.

É uma imensa alegria tê-las na minha vida. Acho que somos a prova de que um grupo de mulheres que se ama pode trocar experiências, vivências, alegrias, tristezas, emoções de forma solidária e sincera, sem competição. O mundo teima em dizer que nós mulheres somos competitivas, mas se isso é verdade em alguns casos é porque esse mesmo mundo nos influencia. E o mundo em que vivemos é competitivo e masculino, pois é o lugar onde os homens sempre (nem sempre, na verdade, mas já há alguns milênios!) exerceram o poder, dominando as mulheres. 
Eu, particularmente, acho que eu e minhas amigas somos um belo exemplo da cooperação feminina - que não deixa de ser uma forma de resistência! - nesse mundo extremamente competitivo em que nos encontramos.

Espero que fiquemos igual ao grupo de velhinhas que uma delas viu em um bar: tomando cerveja juntas e conversando, até que a morte nos separe! ;-)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Viagem ao palácio real

Ouvi uma música no show d'A Banda Mais Bonita da Cidade, gostei muito e agora ela não me sai da cabeça. É uma música bem engraçada. Chama-se "Meu príncipe" e é de uma cantora e compositora pernambucana chamada Lulina. É assim:

"Meu príncipe
Não vem em cavalo branco
Não tem muito dinheiro
Mas eu o amo mesmo assim
Meu príncipe arruma toda a casa
Prepara minha comida
Enquanto eu tô no botequim

Meu príncipe me dá multiplos orgasmos
Ai meu príncipe são 13 no total
Ele limpa o banheiro
Eu trabalho o dia inteiro
Ele lava a roupa suja
E eu bebo bebo bebo
Ele briga com as crianças
E eu toco violão
Ele quer discutir a relação
E eu não..."

Para ver o clipe da música com a Banda Mais Bonita da Cidade: clique aqui.

É impressionante como essa inversão dos papéis considerados tradicionais de homens e mulheres fica engraçada em uma música e causa estranheza. Na verdade torna-se engraçada por nos parecer absurda! Aí é que vemos como esses supostos papéis estão entranhados em nós... e o pior é que muitas mulheres ainda vivem assim, como o homem dessa letra.

Mas não quero discutir esses "papéis", não hoje. Usei a música porque gostei muito dela e também para introduzir o tema da realeza no post. Príncipes e princesas: aqueles seres que só existem em contos de fada. Podem apostar, a vida real é bem mais interessante. 

Eu não gostaria de ser tratada como princesa. "Ah, e por que não? Ela é linda, rica e tem todos aos seus pés." Bom, vou contar para vocês então a estória por trás do conto!

Vida de princesa não é fácil. Todos acham ela linda, mas não sabem o esforço que ela tem que fazer para manter-se assim. Tem que estar sempre com roupa nova, saltos, maquiada e perfumada. Todos acham ela tão simpática e sorridente! Pois é, ela tem que esconder suas tristezas e ainda fazer clareamento nos dentes. E o corpo? Princesa não pode ter estria, nem celulite, nem barriga, nem peito caído. Depois que nascerem as crianças vai ter que "entrar na faca"! Ah, mas o pior de tudo é o seu príncipe. Ele é o primeiro a incentivar essa vida de aparências da princesa. Adora ter uma mulher linda ao seu lado. Pobre princesa... para completar o cenário desolador ele trata ela como se fosse um bibelô. Logo ela, que de frágil não tem nada... e que suporta toda essa pressão calada.

Não, definitivamente não quero ser tratada como princesa. Quero mais, quero ser tratada com muito respeito.







segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Uma viagem bem doce

Estou aqui bebericando. A bebida é uma Ginja de Óbidos. Bem doce, como eu gosto :-) É um licor de cerejas silvestres, mas tenho certeza que alguém me disse que eram de cerejas "selvagens"! Uau! Adorei!

Diz o rótulo: "A Oppidum é a ginja tradicional de Óbidos, produzida sem corantes nem conservantes, com as ginjas de características únicas da Aldeia do Sobral da Lagoa, concelho de Óbidos."

É feita de ginja, açúcar, álcool e água. Aliás estou vendo agora que o teor alcoólico é de 19%. Bebida doce engana... Estou na quarta tacinha e já devo estar viajando. Só isso pra explicar alguém ficar lendo rótulo enquanto bebe.

Mas não é só em Óbidos que se bebe a famosa ginjinha de Portugal, é claro que em Lisboa também. E foi lá que provei a ginja no copinho de chocolate. Hum... sem comentários. Nessa hora decidi que teria que trazer pra casa. Uma garrafa de vidro com 500 ml dentro não é exatamente leve, mas valeu o peso extra na mala. Não é em qualquer esquina da Lapa que eu degusto um copinho de ginja.

Ainda existe a opção de beber a ginjinha "com elas" ou "sem elas" (as ginjas), como se diz. A minha é "com elas", mas as ditas estão se fazendo de difíceis no fundo da garrafa, não querem minha companhia. Hoje beberei sozinha e deixarei para beber "com elas" em uma próxima oportunidade ;-)

Passeando pela muralha

A cidade de Óbidos é muito fofa. Um vendedor de biscoitos local, super simpático, me contou que a cidade sempre foi rural, baseada em agricultura, sem fábricas e os moradores tinham que fazer tudo em uma cidade maior próxima, que esqueci o nome. Até que um prefeito teve a brilhante ideia de divulgar a cidade para o mundo por conta da sua muralha medieval, que sempre esteve ali e ninguém nunca tinha dado importância. Hoje a cidade vive do turismo.

Vista da cidade de Óbidos de cima da muralha
Dentro das muralhas há várias casinhas brancas com lojinhas vendendo variados tipos de artesanato, principalmente trabalhos em ferro e cerâmica.  E ginja, é claro. Apesar de bem pequena (praticamente duas ruas) tem muitas igrejas, essas sim medievais.
Na foto acima dá pra ver lá embaixo um marco. É um monumento a Camões, onde está escrita a parte de "Os Lusíadas" na qual o autor cita a cidade.
Vale a pena conhecer. Aliás, gostaria de voltar a Portugal para ir a lugares que não conheci. E, quiçá, comprar um estoque de ginjinhas só pra mim :-)

domingo, 14 de outubro de 2012

Viajando nos relacionamentos com Raulzito

Há muitas músicas que ouvimos e cantamos sem prestar a devida atenção à letra. Tem música que é gostosa de ouvir por si só e a letra nem importa muito. Tem música que definitivamente não precisa de letra.
Letra e música - as duas coisas mexem comigo. Juntas ou separadas. Também gosto de ler as letras como se fossem poemas. Pra mim são realmente poemas. Talvez por isso eu ame tanto o Chico Buarque, embora muitas vezes escute que as músicas dele são chatas, que a voz dele é ruim. Eu não acho nada disso, amo tudo, mas tenho certeza de que essas pessoas não leram suas letras como se fossem poemas. Ah, mas o Chico merece um futuro post só pra ele. Hoje quero falar de duas músicas do Raul Seixas. Gosto dessas músicas no todo, mas as letras são o que elas têm de mais instigante. Vale se despir dos preconceitos e prestar atenção.
Uma delas é "Medo da Chuva". No geral eu entendo que ela fala de uma separação. Mas muitos detalhes e palavras me indicam que é mais que isso. O sentimento de se sentir preso e de não ter liberdade permeia todo o texto. Ele usa palavras e expressões como "escravo", "pedras imóveis" e "no mesmo lugar". Por outro lado, a chuva, de que ele tinha medo, representa a liberdade. O medo de se libertar termina porque ele percebe que "a chuva voltando pra terra traz coisas do ar." Isso é lindo! A água evapora, forma as nuvens e cai em forma de chuva de novo, só que volta diferente, traz coisas novas, coisas do ar. A água tem um ciclo, uma dinâmica, enquanto as pedras "choram sozinhas no mesmo lugar". Pra mim essa representação da chuva como liberdade e das pedras como escravidão dentro de um relacionamento é simplesmente magnífica.
Em outras passagens da letra acho que o Raul é bem mais direto, mostrando que com a "prisão" do relacionamento ele está deixando de viver sua liberdade de escolhas amorosas: "Como as pedras imóveis na praia eu fico ao seu lado sem saber dos amores que a vida me trouxe e eu não pude viver". E acho que ele vai mais longe quando diz: "porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo". É uma frase bem forte para se pensar. Quando você "se prende" em um relacionamento você tolhe, reprime os desejos que tem por outras pessoas, você se boicota, você se trai. Você se escraviza, você tira sua própria liberdade de escolher a quem amar.
E o pensamento de Raulzito não era nada egoísta. É o que fica explícito em outra música: "A maçã". O mais bonito dessa música, pra mim, é que a liberdade no relacionamento é resultado justamente do amor: "Se eu te amo e tu me amas, e outro vem quando tu chamas, como poderei te condenar?" Isso não é lindo? ;-)
Tenho até dificuldade de citar as partes da letra que eu mais gosto. Os versos que vêm logo depois desses aí de cima também são de arrepiar: "Infinita tua beleza, como podes ficar presa que nem santa no altar?" A beleza infinita eu não entendo só no sentido puramente estético, mas a beleza infinita de ser mulher. Essa beleza infinita não pode ser restringida, não pode ficar presa, é impossível prender algo infinito. A mulher não deve ser obrigada a ficar presa "que nem santa no altar", ou seja, reprimir seus desejos, como muitas vezes é esperado de nós pela sociedade (machista).
Também adoro quando ele fala do ciúme, esse sentimento que achamos tão normal em um relacionamento amoroso. Raul admite que tem ciúme, mas que esse sentimento não passa de vaidade, sentimento de posse e que nada tem a ver com o amor que ambos sentem um pelo outro: "Amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade, sofro mas eu vou te libertar". Na verdade pra mim essa parte ficaria ainda melhor se ele dissesse: "sofro, mas eu vou me libertar". Ele não tem que libertar ela, mas se libertar do ciúme - ficaria mais bonito assim (ridícula, quem sou eu pra mudar a letra do Raul! rsrsrs).
Pra finalizar o comentário dessa música acho que Raul (um adendo: acho que essa música tem parceria com o Paulo Coelho, mas não tenho certeza) expõe bem explicitamente que é a favor de relacionamentos abertos, que duas pessoas não se bastam para se relacionar sexualmente apesar de se amarem de verdade.
"Se esse amor ficar entre nós dois, vai ser tão pobre amor, vai se gastar..."
"Se eu te amo e tu me amas, um amor a dois profana o amor de todos os mortais"
"Mas compreendi que além de dois existem mais..."

Muitas letras de música expressam o que eu penso ou sinto... ou pelo menos eu as interpreto de acordo com meus pensamentos viajantes!
Até a próxima viagem ;-)

sábado, 13 de outubro de 2012

Marinheira de primeira viagem

Nunca curti muito essa coisa de blog, mas nos últimos dias andei visitando alguns tão interessantes que mudei minha opinião. Tanto que resolvi fazer um! Acho que é uma forma legal de expor ideias para quem nunca gostou muito de falar, mas adora escrever (mesmo não sendo minha especialidade!). Quem quiser pode embarcar nas minhas viagens! E não falo só das "viagens da minha cabeça", mas também de viagens de verdade, por lugares que amei conhecer. Pode chegar!