segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Viajando pelas ruas


Li hoje um depoimento no blog Escreva Lola Escreva, para variar (leio todo dia mesmo!), em que uma moça conta uma situação que viveu dentro de um ônibus. Bom, no meio desse relato anônimo ela escreveu um parágrafo que achei bem forte e que simplesmente vai direto no ponto do que nós mulheres vivemos no dia-a-dia. Eu já vivi uma experiência horrível dentro de um ônibus aos 16 anos, indo para minha aula do cursinho pré-vestibular noturno. E já passei por inúmeras outras mais ou menos bizarras que essa. A última foi ouvir "que perigo!" ao sair arrumada para uma festa, e isso foi dentro do meu próprio condomínio. Morri de raiva, fiquei xingando baixinho aquele infeliz. Mas nisso já fiquei tensa pensando naquela frase e no conteúdo intimidador. "Perigo" de quê? Dali eu ia pegar um táxi e já fiquei preocupada. Qual não foi meu alívio ao fazer sinal para o táxi e ver que quem dirigia era uma mulher! Ufa! Relaxei e pude curtir minha ida ao casamento de amigos sem maiores "perigos". Creio que toda mulher já passou por situações em que foram assediadas e constrangidas por homens na rua. Mas vamos ao parágrafo da moça anônima:

"A verdade é que todos os dias milhões de mulheres são importunadas, assediadas, tocadas sem seu consentimento, agredidas verbal e fisicamente, abusadas sexualmente e estupradas, em espaços públicos e privados. A verdade é que sair na rua é uma batalha diária, porque em um sistema de dominação masculina, supõe-se que mulheres estão sexualmente disponíveis e não são suficiente humanas para terem seus espaços respeitados. Pode ser um cara de bermuda ou gravata, que pode dizer "Oi, princesa" ou "Quero f*der sua b*ceta", pode te perseguir ou apenas berrar do outro lado da rua, pode passar de carro e gritar alguma asneira ou passar do seu lado e sussurrar no seu ouvido, pode pegar no seu braço ou passar a mão na sua bunda, ou, no pior dos casos, tentar te violentar. Mas, no fim das contas, a motivação de todas as situações é a mesma, em todas elas somos silenciadas, constrangidas e violadas, e todas são, em maior ou menor grau, invisibilizadas ou normatizadas pela sociedade. Eu chamo de terrorismo machista, e considero uma opressão sistematizada."

Não sei qual a solução. Para citar um paliativo...vagão para as mulheres? Isso não deveria ser necessário, mas infelizmente ainda é. E nem isso os homens são capazes de respeitar. Se não nos respeitam em um vagão reservado a nós, que dirá na rua, que é deles.
Na verdade eu sei qual é a solução e ela não se dará a curto prazo. É uma mudança total do paradigma vigente: um outro mundo, com igualdade de verdade e respeito entre os sexos.

sábado, 24 de novembro de 2012

Viagem reflexiva

Estou devendo mais viagens de verdade nesse blog. Tenho muitas impressões de viagens para compartilhar e fotos bonitas para mostrar. Mas ando muito reflexiva e no momento as viagens para dentro estão ocupando mais espaço na minha vida. Ainda estou aprendendo a lidar com novas ideias e novos ideais. E o pior, estou tendo que reaprender a lidar com as pessoas dentro desse meu novo paradigma. E está bem difícil, eu diria. Hoje li um post no blog da Lola que caiu como uma luva: era um depoimento que tinha muito a ver com o momento que estou vivendo, e me fez parar para pensar um pouco mais.
Acho que sempre fui sensível às injustiças do mundo. Mas algumas fichas custaram a cair. Não percebia o quanto o mundo ainda é injusto e desigual com nós mulheres. Tá, no Oriente Médio é bem óbvio. Isso eu era capaz de perceber. E no Brasil? Aqui já é bem mais sutil (assim como o racismo). Mas cheguei a estudar na faculdade de Direito que mulheres ainda ganham menos que os homens. E que profissões como a de empregada doméstica são tão desvalorizadas (inclusive na nossa Constituição) por serem quase que exclusivamente femininas.
Essas informações meio soltas começaram a se organizar na minha mente bem recentemente. Um blog aqui, uma comunidade ali, um livro acolá e pronto: estava feito o "irremediável estrago" - uma mudança bem radical na forma de ver o mundo. Não tenho mais como voltar atrás. Não tenho como pensar diferente. Considero que sou outra pessoa. Só que as pessoas ao meu redor são as mesmas e continuam pensando igual a antes. Como lidar com isso? Como não me indignar com comentários machistas que escuto sobre nós mulheres? Como fingir que não somos tratadas como objetos? Como não notar que valorizam a nossa beleza em detrimento de outros atributos mais importantes? Está aí na TV, nas bancas de jornal, na "cantada" que recebemos na rua, na fala das pessoas próximas, em todo canto, pra quem quiser ver. Mas é muito sutil e nem todos vêem. É tão sutil que a gente pensa que não existe. É tão sutil que nos desvaloriza sem que cheguemos a perceber.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Viajando no blog alheio


Ando com um pouco de preguiça de escrever. Acho que é porque acabaram-se as férias e voltei a trabalhar. De repente no final-de-semana me inspiro, mas ando mais pra ler. Então vou postar algo que li e gostei: um texto ótimo de um blog que acompanho todos os dias há cerca de um mês, o blog "Escreva Lola Escreva". É sobre o direito das mulheres de votar.

“A pergunta de 160 anos: mulheres deveriam poder votar?”
“A gente ouve isso toda semana: “Feminismo pra quê?! Vocês já conseguiram o direito a voto!”. Os caras (é, quase sempre são caras) que dizem essa besteira não têm a menor ideia de como foi difícil essa conquista, e como tá cheio de pessoas que querem tirar nosso direito (eles que tentem!).
Vou começar falando das dificuldades. O mais interessante de pesquisar quando as mulheres conquistaram o voto é ver que todos os insultos usados contra as feministas hoje (mal amada, feia, ogra, brava, odiadora de homem, peluda, ninguém te quer, quer virar homem etc) já eram usados contra as sufragistas mais de 150 anos atrás. Cadê a criatividade desse povo preconceituoso?”
 Para continuar lendo clique aqui e vá para o blog da Lola.
Eu descobri esse blog porque li um post compartilhado no Facebook. Li, gostei e fui lendo outros posts. A partir de então não consegui deixar de ler nenhum dia. E, o melhor de tudo, descobri a feminista que havia dentro de mim :-)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Viagem midiática

"Na história, não é novidade que o ser humano se torna passivo e frágil diante de um sistema social com o poder de submetê-lo a ideologias fabricadas de acordo com seus interesses. Dessa forma, crenças tão arraigadas, vividas como verdades indiscutíveis, vão sendo incutidas nas pessoas que as defendem como se fossem suas.
Os valores de uma sociedade são, na maioria das vezes, tão imperiosos que determinam até desejos. Não questioná-los é permitir sua influência autoritária. É abrir mão da autonomia e, impotentes, se deixar manipular como marionetes." (Regina Navarro Lins, A Cama na Varanda, pág 132).

Estou adorando esse livro. Acabei de ler esse trecho e estou aqui fazendo uma pausa para reflexão. O livro trata da construção histórica de conceitos como amor romântico, casamento, amor materno...  Conceitos que são tidos como "naturais", inerentes ao ser humano mas que na verdade foram construídos para servir ao propósito de manter o poder dos homens e a submissão das mulheres.

Assisti anteontem "Miss Representation", um documentário que mostra que a representação que a mídia cria da mulher limita sua atuação na sociedade. A mulher é vista como objeto, o que gera uma desvalorização de todos seus atributos como ser humano. 

A mídia é uma poderosa fábrica de ideologias. Se historicamente o sistema social sempre submeteu as pessoas a seus interesses, quem dirá atualmente, com todo o poder de que a mídia dispõe. Isso me assusta, e muito.

Tem um livro que trata desse assunto também que é "O mito da beleza" (Naomi Wolf). Também estou querendo lê-lo, mas tenho problemas em ler livros no computador. Acho que vou acabar comprando o livro "físico" mesmo. Pelo subtítulo já dá pra ter uma ideia melhor do conteúdo: "como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres". 


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Chegando de viagem e falando de amizade


Cheguei de viagem, uma viagem maravilhosa. Depois quero fazer um ou mais posts só sobre ela, com muitas fotos, é claro.
Voltar ao mundo real não é tão ruim assim. Na verdade é muito gostoso, ainda mais ainda estando de férias e podendo dormir muito, curtir o cafofo, ler livros, escrever longos emails com calma para minhas queridas amigas...

Sim, tenho um grupo de melhores amigas há quase 17 anos, que se formou ainda durante minha primeira faculdade. Com elas divido muitas coisas que se passam pela minha cabeça que não ouso dividir com mais ninguém. São de minha inteira confiança. Nossa amizade foi amadurecendo junto conosco. E hoje, já quase atingindo a maioridade, essa amizade tornou-se muito forte. É claro que durante sua infância e adolescência cometeu alguns erros, e ainda os comete, mas esses mesmos erros serviram para que crescesse como uma amizade única e duradoura.

É uma imensa alegria tê-las na minha vida. Acho que somos a prova de que um grupo de mulheres que se ama pode trocar experiências, vivências, alegrias, tristezas, emoções de forma solidária e sincera, sem competição. O mundo teima em dizer que nós mulheres somos competitivas, mas se isso é verdade em alguns casos é porque esse mesmo mundo nos influencia. E o mundo em que vivemos é competitivo e masculino, pois é o lugar onde os homens sempre (nem sempre, na verdade, mas já há alguns milênios!) exerceram o poder, dominando as mulheres. 
Eu, particularmente, acho que eu e minhas amigas somos um belo exemplo da cooperação feminina - que não deixa de ser uma forma de resistência! - nesse mundo extremamente competitivo em que nos encontramos.

Espero que fiquemos igual ao grupo de velhinhas que uma delas viu em um bar: tomando cerveja juntas e conversando, até que a morte nos separe! ;-)